terça-feira, 17 de março de 2009

O Bombardeio a Ploesti!





No dia 11 de junho de 1942, ao cair da noite, 13 bombardeiros norte-americanos B-24 Liberator, comandados pelo Coronel Harry A. Halverson, levantaram vôo de bases britânicas no Egito, empreendendo viagem para o Norte, através do Mediterrâneo. Seu objetivo: a grande refinaria Astro Romana, a maior de toda a Europa, situada no centro petrolífero romeno de Ploesti, com uma produção anual de 2.000.000 de metros cúbicos de combustível. Se iniciou assim, com esse improvisado reide, a ofensiva de bombardeios contra Ploesti, que havia de atingir seu momento mais dramático 14 meses mais tarde, com o segundo ataque.

Os aviões de Halverson haviam partido dos EUA no mês de maio de 1942, com a missão de atacar, de bases chinesas, a cidade de Tóquio. No entanto, esta incursão foi tornada sem efeito, por terem sido os aeroportos chineses tomados por forças japonêsas antes da chegada dos americanos. Haverson recebeu, então do General Arnold, chefe da Força Aérea Americana, a ordem de bombardear a refinaria de Ploesti. A incursão, porém, não alcançou resultados importantes. De fato, as instalações dado o escasso número de aviões atacantes, receberam danos insignificantes. além disso, o bombardeio teve também um desenrolar desfavoravel para os Aliados, pois os alemães, alertados da incursão, reforçaram fortemente as suas defesas anti-aéreas.

O General Gerstenberg, chefe das forças alemãs na Romenia, solicitou e obteve o envio de unidades de terra e ar, que, em fins de 1942, chegavam a cerca de 50.000 homens. Dessa maneira, Ploesti se converteu numa verdadeira fortaleza terrestre, defendida por centenas de canhões pesados e leves e um grande número de metralhadoras.

Os organismos de planificação da aviação americana efetuavam, nesse meio tempo, minunciosos estudos sobre a importancia de Ploesti para a capacidade bélica da Alemanha. Chegou-se assim à seguinte conclusão: entre os possíveis alvos industriais do Eixo, as refinarias de Ploesti se destacavam como mais importante. A sua destruição reduziria radicalmente os disponibilidades de combustível da Alemanha, fato que teria consequencias decisivas no desenvolvimento da guerra. Calculava-se que um reide em grande escala reduziria a produção de combustível a uma terça parte e encurtaria a guerra pelo menos em seis meses.

Baseado nesses tentadores cálculos, na conferencia efetuada na Casa Branca por Churchill, Roosevelt e os principais chefes militares, resolveu-se ordenar um ataque maciço aéreo contra Ploesti. A missão foi confiada à 9º Força Aérea Americana, comandada pelo General Brereton, estacionada na Líbia. A planificação da operação, batizada como o nome chave de " Tidal Wave ", foi confiada a um grupo de chefes da aviação, en tre os quais se destacava o Corronel Jacob Smart, o qual recorreu aos serviços do Corpo de Inteligência da RAF e a diferentes especialistas britânicos, entre os quais se contava um antigo gerente da refinaria Astro Romana em Ploesti.

A operação apresentava inumeráveis dificuldades. Em primeiro lugar a enorme distância que separava o alvo dos aeroportos aliados na Líbia ( viagem de ida e volta era de 4.200 km´s ). além disso, uma vez alcançado o objetivo, os bombardeiros teriam cinco grandes refinarias distribuidas em um anel de umas cinco milhas de extenção, em torno da cidade de Ploesti. Era necessário portanto, uma grande precisão para arrasar as instalações chaves da refinaria, que se encontrava muito separadas umas das outras, prevendo incêndios ou catastrofes semelhantes. ainda, para conseguir uma margem ampla de destruição, devia-se procurar, a todo custo, preservar o fator surprêsa, coisa que á primeira vista parecia praticamente impossível. De fato, em sua profunda penetração atravéz do território inimigo, até chegar a Ploesti, os bombardeiros, indubitávelmente, seriam detectados pelas cadeias de radares e pelos obse rvadores, alertando assim as defesas anti-aéreas com tempo suficiente para causar graves baixas aos atacantes.

Ao analisar o problema que a incursão representava, o Coronel Smart chego a conclusão de que a tática que melhor perspectivas oferecia era um ataque maciço e em vôo rasante. Esse método, que se afastava radicalmente do procedimento tradicional da aviação de bombardeios americanos tomaria indiscutivelmente os alemães de surpresa, acostumados aos reides efetuados sobre o Norte da Europa, todos a grande altura. ainda, ao aproximar-se, a uma altura minima, os B-24´s que seriam empregados no ataque, dificilmente seriam detectatos pelo radar alemão e traria imenssa dificuldade para os aviões de caça e baterias anti-aéreas de defesa. Assim se poderia alcançar um maxímo de efetividade no bombardeio.

Smart apresentou o seu plano aos altos chefes aliados, que se reuniram em Washington, durante a conferência celebrada por Churchill e Roosevelt em maio de 1943. O chefe do estado-maior da aviação britânica, Marechal Portal, manifestou suas dúvidas acêrca doas possibilidades de exito do projeto e lembrou que, caso se fracassasse na tentativa de destruir de um só golpe as refinarias, dar-se-ia aos a lemães a vantagem de construir defesas muito mais poderosas. O general norte-americano Marshall, contudo, classificou a operação TIDAL WAVE como ação mais importante que podia ser realizada nesse momento para apoiar os soviéticos e aplainar o caminho para a invasão da Europa. Terminou a sua exposição assinando que mesmo um exito causaria um grave prejuizo ao inimigo. a realização do ataque foi aprovada, e dadas as correspondentes ordens à 9º Força Aérea Americana no Mediterrâneo.

Uma vez conseguido a autorização dos altos chefes aliados, o Coronel Smart se transladou á Grã-Bretanha, ali confiou a planificação do ataque ao Coronel Timberlake, um dos mais destacados comandantes de bombardeiros Liberator´s. Timberlake em conjunto com outros chefes norte-americanos e britânicos, elaborou os detalhes finais da operação.

Optou-se, como via de aproximação de Ploesti, pela direção que os alemães consideravam menos provavel, a noroeste. A rota mais lógica de entrada em território romeno, a partir da Líbia, era o sul. ali, o General Gerstenberg, chefe da defesa alemã, havia concentrado a maior parte dos seus efetivos. Os B-24´s ao se aproximarem vindos do Norte, teriam além disso a vantagem de contar com uma referência identificavel do ar: a via ferrovíaria que se dirigia em linha reta desde a localidade de Floresti até o centro petrolífero de Ploesti. Desta maneira, Floresti foi designada como ponto inicial para empreender a " corrida " de bombardeio.

Ao chegar a esta localidade, as esquadrilhas aproariam para o sul e se lançariam em vôo rasante para as refinarias, situadas a uma distancia de 13 milhas. Calculava-se que pràticamente não haveria defesa anti-aérea nesse setor, o que facilitaria a aproximação dos bombardeiros. Para realizar o ataque foram selecionados cinco grupos de bombardeiros B-24. Dois deles já se encontravam na Africa do Norte ( o 376º comandada pelo Coronel Compton, e o 98º capitaneada pelo Coronel Kane ) , outros três grupos ( o 93º sob o comando do Coronel Baker, o 44º do Coronel Jonhson e o 389º do Coronel Wood´s ) estavam estacionados na Grã-Bretanha e ali mesmo iniciaram suas primeiras missões de treinamento em vôo rasante. Posteriormente, as esquadrilhas com base na Inglaterra se dirigiram para a Líbia, onde encerraram a concentração nos primeiros dias de julho de 1943.

As refinarias foram classificadas pela colocação, da esquerda para a direita, em objetivo " Alvo 1 " refinaria Romeno Americana destinada á 376º, " Alvo 2 " refinaria Concordia Vega destinada á 93º , " Alvo 3 " refinaria Standard Petrol Block e Unirea Sperantza a ser atacada pela segunda secção da 93º , " Alvo 4 " a mais importante a Astro Romena destinada á 98º e o " Alvo 5 " refinaria Colombia Aquila a ser atacada pelo grupo 44º. Além disso se levaria a cabo o bombardeio de dois centros petroliféros, vizinhos a Ploesti: uma secção do 44º atacaria a localidade de Brazi ( objetivo " Azul " ) e o Grupo de bombardeiros 389º atacaria a localidade de Campina, ao norte de Ploesti ( objetivo " Vermelho" ).

Uma vez classificados os alvos e distribuídas as forças, se prepararam mapas especiais, para facilitar a sua identificação, e peliculas com modelos, em escala, do alvo, para treinar os pilotos. Com todos esses elementos, o coronel Smart rumou para Bengasi, sede do comando do General Brereton, chefe das esquadrilhas que interviriam no ataque. Em Bengasi começou a instrução dos pilotos e tripulações qu e atacariam o centro petroliféro de Ploesti.

O total de aviões que tomariam parte no reide chegava a 177 aparelhos B-24´s, armados com uma carga de 311 toneladas de bombas de demolição de 1.500 libras, todas elas com espoleta de ação retardada ( entre 45 segundos e 6 horas), alem disso, os aviões levariam 290 recipientes de bombas incendiarias britânicas e 140 " cachos" de incendiarias americanas. Os B-24 foram equipados com uma nova mira de bombardeio, e special para baixa altura, e em seus comaprtimentos de bombas foram instalados dois tanques suplementares que lhe deram uma capacidade de 3.100 galões de carga de combustivel.

Na última semana de julho todos os oficiais receberam um informe completo do reide. Posteriormente, o segredo foi tambem revelado aos subordinados. Os modelos em relevo do alvo foram exibidos as tripulações transportando-os atravez dos diverosos aeroportos.

Os vôos de treinamento se intensificaram e culminaram na manhã do dia anterior ao reide, 31 julho, com um ataque simulado de todas as forças a um alvo improvisado no deserto, que reproduzia esquemáticamente a conformação do objetivo. Distribuidas num arco de cinco milhas de largura, asa contra asa, os B-24 sobrevoaram o alvo em vôo rasante, a toda velocidade e o arrasaram em poucos minutos, lançando uma chu va de bombas de 200 libras.

Chegou-se então ao fim do longo preparativo, na tarde de 31, as tripulações foram reunidas e o General Brereton lhes dirigiu um discuros emocionado " O rugido dos vossos motores no coração do território inimigo continuará ressoando nos ouvidos dos romenose, com certeza, nós de todo o mundo, muito depois que o estampido de vossas bombas e crepitar dos incendios tenha se extinguido". em seguida, o Marechal-do-Ar Tedder despediu-s e das tripulações com as seguintes palavras " É uma missão dura e perigosa que exigirá toda a vossa coragem e habilidade...Desejo a todos a melhor sorte possivel...".

No último momento chegou uma ordem direta de Washington, no qual o General Arnold proibia ao General Brereton e aos Coroneis Smart e Timberlake de participar, tal como fora planificado, da missão, esses chefes, segundo o críterio de Washington, tinham conhecimento de muitos segredos vitais aliados para correr o risco de serem capturados pelos alemães. A direção do ataque, em consequência, ficou nas mãos do General Ent, que voar ia no avião do chefe do grupo 376º , encabeçando a formação.

Poucas horas antes de decolar, as tripulações foram reunidas pelos seus chefes. após as últimas instruções, os homens ficaram á espera do momento decisivo. As reações individuais, nos quais prévios, foram as mornais, como sempre, os capelões reuniram ao seu redor os centenas de homes, escutaram suas confissões, suas confidências, receberam suas mensagens, cartas, lembranças para os entes queridos e somas em dinheiro destinadas a pagar suas dividas... No momento que antecede ao instante supremo em que o homem se defronta com a morte, a brincadeira cede lugar ao silêncio, o riso à lembrança, as conversas à relembrar mommentos felizes passados, na pátria, junto aos entes queridos.

As 2 horas da madrugada de 1 de agosto de 1043, nos diversos aeroportos, reinava a calma mais absoluta. sob o céu estrelado do deserto, os B-24 estavam alinhados. Nas tendas e barracas, os homens aguardavam, alguns em silêncio, outros reunidos em pequenos grupos, a ordem final. De subito, com obede a um chamado, dezenas de jipes e caminhões arrancaram com estrondo, tocando as buzinas. Os oficiais, em voz alta, chamavam os homen s de suas unidades e os faziam subir aos veículos. Centenas de pilotos, navegadores, metralhadores, radioperadores, e bombardeadores saltaram para os carros e partiram, velozmente. A distância, as negras silhuetas dos B-24 os esperavam. Uma vez lançadas as tripulações, os homens recerem dos pilotos as ultimas instruções e palavras de alento. distribuiram-se, também, equipamentos de fuga, contendo um mapa dos Balcãs, traçando num lenço de sêda, um vocalulário mimeografado de palavras em romeno, búlgaro, gr ego, turco, moedas de ouro britânicas, dez notas de um dólar, dracmas e liras, pastilhas para purificar a água, biscoitos, chocolate, uma pequena bússola e mensagens escritas pedindo ajuda e identificando o seu portador como combatente aliado.

Os motores se puseram em marcha. Com um ensurdecedor rugido, 712 motores fizeram vibrar as pistas, levantando gogantescas nuvens de poeira. Os B-24, carregados ao maxímo, com 3.100 galões de gasolina e 4.300 libras de bombas em seus porões, começaram a se movomentar pesadamente rumo à extremidade da pista. a bordo 1.763 homens, dos quais somente dois não eram americanos, um era o sagento canadense Kingman e o chefe de esquadril ha inglês Brawell, que viajava como artilheiro em um dos bombardeiros.

Exatamente as 4 da madrugada foram disparados da torre de controle as bengalas que emitiam as ordens de levantar vôo, o bombardeiro "wingo-Wango", avião guia da formação, a bordo do qual viajava o navegador principal do vôo, acelerou ao maxímo os seus motores e ápós longa corrida se elevou, perdendo-se na escuridão. Com intervalos de dois minutos, dos diveros aeroportos. a uma altura de seiscentos metros, voavam em circulos, os cinco grupos foram se integrando. ao cabo de uma hora a operação de decolagem havia se concluido. Somente um dos B-24 se perdeu na manobra, ao falhar um dos motores, o aparelho ao procurar aterrisar, chocou-se contra um poste telegrafico e incendiou-se.

Minutos mais tarde, a poderosa frota aérea aproava para o norte, rumo à ilha de Corfu, no outro extremo do Mediterrâneo. Ali, deveria girar para o leste, internado-se através do território balcânico, até Ploesti. `A frente voava o chefe do Grupo 376º coronel Compton, imediatamente depois do avião-guia. No aparelho de Compton viajava também o Gerenal Ent, Comandante chefe da operação.

O silêncio radiofônico era absoluto, entretanto essa precaução seria inútil. o serviço de inteligência alemã, com sede em Atenas, hávia já captado e decifrado uma curta mensagem enviada pelo comando de Bengasi a todas as unidades do ar, mar e terra do Mediterrâneo, na qual se anunciava que uma grande formação aérea havia iniciado vôo da Líbia. Imediatamente todos os serviços defensivos instalados pela Luftwaffe na Itália, àust ria e Balcãs foram alertados. No centro de radar germanico situado em Bucareste recebeu-se uma segunda chamada, emitida da estação de Salônica, na qual se comunicava que os bombardeiros de dirigiam diretamente para o Norte, sobre o Mediterrâneo, a uma altura de seiscentos a setecentos metros de altura. Assim, enquanto os alemães já se encontravam em estado de alerta, embora sem poder precisar o rumo exato da formação de B-24, continuavam o seu vôo.

Uma hora depois da partida, dez aviões tiveram que abandonar os grupos por causa de falhas mecânicas, as formações comecaram a se distanciar entre si, Os primeiros grupos foram se separando do resto da força até perder o contato visual. Poucos minutos antes de alcançar a costa de Corfu produziu-se um novo incidênte. O avião " Wingo-Wango " se precipitou inesperadamente ao mar em trinta segundos desapareceu sob as águas. O apare lho que acompanhava o " Wingo-Wango", em que viajava o segundo navegador da rota, violando as disposições expressas de não romper a formação, perdeu altura e sobrevvou a zona da queda para verificar a existencia de sobreviventes. Impossibilitato já de retornar a frente das esquadrilhas, teve que retornar a base, na Líbia. Um terceiro avião , o " Brewery Wagon ", tomou o posto de guia e seu navegador, um jovem tenente, ficou então com a responsabilidade de conduzir a formação até Ploesti.

A esta altura dos acontecimentos, o número de aviões era de 165. a bordo dos aviões , os pilotos e navegadores abriram seus mapas especiais enquanto se aproximavam do primeiro grande obstáculo da rota: a cadeia montanhosa de Pindo, com uma altura de 3.000m . Para ultrapassar as montanhas, os B-24 deveriam subir a um nivel minimo de 3.300m. Ao se acercarem do maciço, minutos mais tarde, os aviadores norte-americanos comprovaram que o mesmo se encontrava coberto por grandes formações de cúmulos, o que tornaria sumamente dificil o cruzamento em formação. vôo atravez das nuvens, com visibilidade nula e turbulências, podia provocar colisões. Para evita-las, aForça aérea americana havia preparado uma manobra chamada " Penetração Frontal ", o método era o seguinte, o chefe da formação começava a voar em circulos diante da massa de nuvens até que toda a força se incorporasse a esse especie de carrosel. Uma vez concentrados assim todo s os aviões, iniciavam o cruzamento em grupos de 3 aviões e regressavam a manobra do carrosel até que todas as aeronaves atravessassem as nuvens, e depois retomavam a rota do alvo.

O coronel Compton, comandante do grupo que vava á frente, compreendeu logo que essa manobra, apesar de ser mais acertada, exigiria uma excessiva perda de tempo e combustivel, o que poderia acarretar graves consequencias no desenvolvimeto posterior do reide. Sem vacilar, tomou uma resolução, fazendo oscilar as asas do seu avião, à maneira de sinal para que os demais pilotos o seguissem, subiu em linha reta para as nuvens, em for mação de batalha. Atras dele, o segundo grupo, guiado pelo Coronel Baker, o seguiu na manobra audaciosa. Os três Grupos restantes, que avançavam atrasados, encabeçados pela formação do Coronel Kane, realizaram, por ordem deste a " Penetração Frontal " ou seja o classico carrossel. Deste modo, a já ampla separação entre as duas formações, se tornou ainda maior. Ao surgir da massa de nuvens que envolvia a cordilheira, as forças encabeçadas por Compton e Kane estavam separadas por uma distância de quase sessenta milhas.

Um poderoso vento de calda impulsionou os aviões de Compton ainda mais longe, aumentando a distância que os separava dos aviões de Kane. Entrementes, os observadores e radares alemães haviam detectado a aproximação da força de B-24´s rumo ao território romeno. As unidades de defesa entraram na primeira fase do alarme.

Uma vez superado o obstaculo representado pela cordilheira, os aviões de Compton, sobrevoando a planice romena, enfrentaram as ultimas 150 milhas que os separavam de Floresti, onde deveriam girar para o sul, e iniciar a " corrida " e seguir em direção ao alvo Ploesti. Voando a poucas dezenas de metros de altura, os gigantescos liberators, avançavam em vertiginosa velocidade, semeando a surpresa e espanto entre os camponeses que contemplavam a sua passagem.

Nos postos de radar germânicos, os operadores, desorientados, comprovaram que a formação aliada desaparecera das telas ( o motivo, por razões logicas, era a baixa altura em que os aviões voavam). Alarmado, o chefe do contrôle de caças emitiu ordem de decolar sem perda de tempo. O rumo : setor norte de Ploesti.

Às 13h30min, no momento em que os bombardeiros de Campton se achavam a vinte minutos do alvo, ressoaram os alarmes em Ploesti e Bucareste. Os Liberator´s, voando ainda mais baixo, rumaram para linha de aproximação de Ploesti determinada pela localidades de Pitesti e Targoviste. A identificação do terreno se fazia cada vez mais dificil. Assim foi que, ao aproximar-se de Targoviste, o Coronel Campton confundiu essa localidade com Floresti, ponto fixado de antemão para mudar o rumo via Sul. seu avião " Teggie Ann ", deu uma volta fechada para a direita e foi seguido pelos demais aparelhos. O êrro era total, agora os Liberator´s se dirigiam diretamente para Bucareste, Capital da Romênia.

Muitos dos pilotos que seguiam Campton compreenderam imediatamente que ele errara a rota. Um deles rompendo o silêncio de radio, até então zelosamente mantido, abriu o microfone e gritou a todo o grupo : " Não é aqui ! È um Erro !! ". Porém a formação de vanguarda do grupo 376º continuou para a frente. Poucos quilomêtros depois recebeu as primeiras descargas dos canhões de 88mm germânicos. a batalha de Ploesti se iniara. Alguns caças de modelo antiquado que defendiam Bucareste sairam ao encontro dos Liberator´s e picaram sobre eles.

No " Jersey Bounce" produziu-se a primeira baixa em ação, o artilheiro da cauda tombou, ceifado por uma rajada de metralhadora. Enquanto os aviões de Compton caiam sob fogo dos caças inimigos e das baterias anti-aereas, o segundo grupo, o 93º, comandado pelo Coronel Baker, na metade do caminho virou para a esquerda e se dirigiu diretamente para Ploesti.

Em terra, os observadores alemães assinalaram alarmados " Atacam Bucaresti e Ploesti ". No contrôle de defesa germânica, ao se receber a notícia, considerou-se a suposta incursão contra Bucaresti como uma manobra de distração para afastar os caças da zona de Ploesti. tudo, no entanto, fora fruto de um engano.

Aproximando-se, em formação cerrada, a seis metros do solo, os 32 B-24´s de Baker se dirigiram para o alvo em meio a um vendaval de tiros. dos aviões, os artilheiros respondiam o fogo incessantemente com suas metralhadoras contra as posições germânicas que passavam diante de suas miras a uma velocidade vertiginosa. Varios aviões já deixavam atras de sí longas esteiras de fumo, proveniente se seus motores incendiados ou danifica dos. No interior dos aparelhos, muitos dos tripulantes jaziam ensanguentados nos bojos repletos de capsulas usadas.

A formação, porém, continuava o seu inexorável avanço. O " Euroclyden " foi o primeiro avião atingido pelo fogo anti-aéreo e convertido numa gigantesca bola de fogo caiu. à frente da formação, o " Hell´s Wench ", pilotado pelo Coronel Baker, mergulhou num inferno de balas traçantes e recebeu um impacto direto de um projétil de 88mm. Em rápida sucessão outros disparos o atingiram e um dos projéteis acertou em cheio a sua cabine. Três minutos de vôo separavam o avião do alvo. Baker manteve o seu avião em vôo, guiando assim a sua formação numa demonstração de heroísmo sem limites. Pouco antes de atingir o alvo, outra granada explodiu no aparelho e este, raspando as altas chamines da refinaria, se precipitou num campo proxímo. Os demais aviões, entretanto, guiados agora pelo Coronel Brown, levaram a cabo o ataque em meio a um inferno de balas traçantes, explosões de bombas e rugir de motores.

Os grandes tanques de petróleo da refinaria começaram a explorir, atingidos pelas bombas. Um B-24 o " José Carioca " envolto em chamas, caiu ao solo, investindo contra um predio da refinaria, atravessando-o de parede a parede e deixando um rastro de gasolina incendiada na sua cega corrida.

Dos 34 aviões do grupo 93º de Baker, que iniciaram o ataque, apenas 15 emergiram da massa de fumo negro que cobria Ploesti, pelo lado oposto. Desses, somente cinco estavam com avarias leves. Os demais, seriamente atingidos, voavam com motores parados, incendiados e com grande quantidade de mortos ou feridos a bordo. Seu sacrifício, contudo, não estava concluido. Os caças alemães que patrulhavam o norte de Ploesti se dirigiam ao seu encontro e os atacaram encarniçadamente, derrubando varios deles. Finalmente, os Messerschimitt abandonaram a perseguição para enfrentar nova onda de B-24 que se aproximavam de Ploesti. Enquanto o grupo de Baker desenvolvia o seu ataque, a formação de vanguarda dirigida pelo Coronel Compton continuou avançando para Bucareste, em meio aos disparos da artilharia anti-aérea.

Ao aproximar-se da cidade, vislumbraram os campanários das igrejas e não as chaminés da refinaria, Campton e o General Ent, que viajava em seu avião, compreenderam o erro e viraram para o Norte, rumo a Ploesti. contudo, ao se aproximarem do alvo, defrontaram com uma cortina impenetravel de fogo anti-aéreo. O General Ent, então, tomando o microfone, ordenou aos aviões que dispersassem e golpeassem os alvos a sua escolha.

Um grupo de cinco aparelhos se manteve unidos em redor do avião do comandante Appold, e atravessou a cortina de fogo anti-aéreo, conseguindo colocar todas as suas bombas sobre a refinaria " Concordia Vega ", causando-lhes graves danos. Os restantes aviões de Campton, lançaram suas bombas ao acaso e se retiraram roçando o solo.

Os aviões de Appold, entrementes, cruzaram com parte da formação de Baker, enquanto sobre eles os aviões do Grupo 98º do Coronel Kane, que acabavam de chegar ao alvo, entraram no espaço aéreo de seu alvo a grande velocidade e baixa altura. Assim, num dado momento, o céu de ploesti ficou coberto por três grupos de B-24´s que voavam em direções diferentes, num caos espantoso, a artilharia alemã, enquanto isso, disparava com todos os seus canhões, a queima-roupa.

O grupo 98º, do Coronel Kane, junto com o 44º, do Coronel Johnson, haviam chegado a Ploesti, seguindo o rumo planificado originalmente. Johnson bombardeou o alvo que lhe fora designado á refinaria " Colombia Aquila "conseguindo o maior indice de destruição de todo o ataque, em troca da perda de nove dos seus 16 aparelhos. A refinaria ficou inutilizada por onze meses. Os outros 21 B-24 do grupo 44º se dirigiram ao alvo " Azul - refinaria Creditul Minier ", situada na localidade de Brazi, a dez quilometros ao sul de Ploesti. Esta fabrica era a mais moderna de toda a Europa e produzia gasolina de aviação.

A formação comandada pelo Coronel Posey lançou-se sobre o alvo em quatro ondas. a descarga de um canhão de 37mm alvejou o seu avião-guia o " V for Victory " , arrancando-lhe parte da cauda e matando um artilheiro. O avião, porém , prosseguiu o vôo, vomitando fogo com todas as suas metralahadoras contra os postos da artilharia germânica. Aproximando-se do alvo, o " V for Victory" subiu a 70 mm para evitar o choque com as altas c hamines e lançou todas as suas bombas. um avião da segunda onda acertou, com extraordianria precisão suas três bombas no edificio das caldeiras, arrasando-o por completo. Outro, saltando edificios, chamines e tanques, sobrevvou o alvo a um metro e meio de altura! E arrojou suas bombas com espoleta retardada, diretamente nos pontos predeterminados.

Os aviões da terceira onda colocaram suas bombas, com espoleta de meia hora de retardo, atraves do teto da usina elétrica e em um dos grandes tanques de armazenamento. a quarta onda voltou a atingir varios pontos da usina e um dos seus aviões passou sobre os tanques de combustivel segundos antes que estes voassem em pedaços. O artilheiro da cauda comentaria mais tarde " a tampa do gigantesco deposito se enroscou, com a deformaç ão, como se fosse a tampa de uma lata de sardinha".

A formação do Comandante Posey completou assim a sua tarefa sem perder um só avião. a refinaria Creditul Minier ficaria inutilizada pelo resto da guerra. Posteriormente, porém , os caças germânicos se lançaram sobre a esquadrilha e derrubou 2 B-24´s de Posey.

O grupo 98º, do Coronel Kane, em seis levas, mergulhou no inferno de Ploesti e arrojou suas bombas na maoir das refinarias, a Astro Romana, causando danos que reduziram à metade a sua produção. Esse resultado se obteve, entretanto à custa de um preço terrivel, dos 46 bombardeiros que iniciou o ataque, apenas 22 foram derrubados pelo fogo anti-aérea ou pelos caças. Dos que conseguiram escapar a destruição, apenas 12 podiam se m anter no ar.

O último ataque da terrivel jornada foi realizado pelo Grupo 398º, o " Sky Scorpions " do Coronel Woods. suas bombas arrasaram o objetivo " Vermelho refinaria Steaua Romana " situada na localidade de Campina, a dezoito milhas ao noroeste de Ploesti. Seis das 29 B-24 foram abatidas, porém as instalações terminaram destroçadas em sua totalidade pelos certeiros impactos.

Enquanto em Ploesti continuavam explodindo as bombas de espoleta retardada, acrescentando novos incendios a gigantesca fogueira, os B-24 se retiraram em desordem, em diferentes direções, desgarrados pelo fogo da artilharia alemã e transportando as suas tripulações dizimadas ou gravemente feridos.

A espantosa incursão durou apenas 27 minutos. Nesse breve lapso, 41 B-24 haviam sido derrubadas, dos 165 que chegaram no local, mais de 400 pilotos e tripulantes haviam perecido ou caido prisioneiros. Dos que escaparam a destruição, mas da metade estava seriamente avariada. a maior parte rumou para sudoeste, fustigada pelos caças alemães, que faziam novas vitimas. Oitenta e oito conseguiram retornar à sua base de onde partiram, em Bengasi, Libia. Outros 24 aparelhos aterrisaram em aerodromos aliados no Chipre, na Sicilia e em Malta. oito aviões se dirigiram para leste e desceram na Turquia, onde suas tripulações foram exiladas.

Assim se encerrou a grande reide que foi qualificada como o último ato de luta cavalheiresca na ofensiva de bombardeio aérea. Com efeito, não houve, em toda a guerra, outra ação de bombardeio contra um centro povoado em que morressem, como em Ploesti, mais aviadores aliados que civis.

À custa de seu próprio sacrificio, os valentes tripulantes de B-24 atiraram suas bombas certeiramente sobre as refinarias que rodeavam a cidade, limitando assim a destruição ás vitais instalações petroliferas. Desta forma, conseguiram causar uma proporção maoir de danos que nos ataques posteriores contra Ploesti, realizados a grande altura.



Caças em ação !


Relatos dos pilotos germânicos que enfrentaram os Liberatos americanos sobre Ploesti :

"      Coloquei-me bem alto, por cima da cauda de um B-24 e começei a disparar...Não sei se eles responderam ao meu fogo. Tudo aconteceu muito rapido. Eder (ala) e eu voltamos a situar-nos atrás dos B-24, dois minutos mais tarde. Os Liberator começavam a dispersar-se. Um dos motores do  que eu perseguia estava fumegando, possivelmente como resultado da minha primeira passada. ao lançar-me em picado, vi Eder completar o seu segundo ataque. Acerquei-me da minha prêsa e crivei de balas a fuselagem do avião.

Neste momento, os dois B-24 voavam muito baixo, tratando desesperadamente de salvar-se, apertando-se contra o terreno. Ao tornar a atirar vi Eder fazer uma terceira passada sobre o seu alvo. Já não havia, nesta altura nenhum aparelho na minha frente. O  B-24 ficou para trás, espatifado, na terra. O bombardeiro de Eder ardia, à distantâcia de duas milhas..."

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"       Disparei o meu canhão e minhas metralhadoras e consegui atingir o bombardeiro na asa direita...Lancei-me sobre o B-24 crivando-o de balas, da popa à proa. suas metralhadoras procuravam atingir-me, porém os projéteis, embra passassem perto, não me alcançaram. Com o acelerador no fundo, fiz uma volta, inclinando-me para a direita, e olhei por sobre o meu ombro para verificar se era necessário outro ataque. Os dois tanques das asas estavam em chamas...O B-24 tratou de ganhar altura e prosseguiu voando uns 500 metros mais, antes de espatifar-se, envolto em chamas. Ninguem teve tempo de saltar. Aparentemente havia já lançado suas bombas, pois não houve explosão secundaria..."

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"       As metralhadoras disparavam em todas as direções...Escolhi um B-24 que voava a uns 150 pés do solo e o ataquei por trás. Desacelerei o meu Me-109, baixei os flaps para reduzir ainda mais a velocidade e varri o B-24 com uma descarga que o alcançou de uma asa a outra. Podia ver os projeteis traçadores, atingindo o avião, e as chamas surgirem por toda a parte. O artilheiro do teto e da cauda disparavam contra mim.  Alhinhei o meu avião para me situar a uns 70 pés de distância. Meu motor se incendiou e senti uma tremenda vibração. Arrastado pela velocidade deslizei por baixo e pelo lado esquerdo do B-24, que estava já fora de controle. O artilheiro do teto e da cauda  atiravam em mim com toda furia, e eu sem poder dominar o meu avião...Restava-me só um segundo para decidir o que fazer. a melhor possibilidade me pareceu deixar-me expulsar do avião quando este bate-se no solo. Livrei-me das correias, e abri o teto da cabine...Não recordo o momento do impacto. quando recuperei a consciência, encontrei-me sentado no solo, com meu uniforme destroçado e as pernas feridas. Perto, ardia os dois aviões, o B-24 e o meu avião..."

Inferno no Ar !!

 
Testemunhos de alguns homens que intervieram no ataque rasante as refinarias de Ploesti abordo dos B-24 Liberator´s :

"Avistei um 88mm atrás de uma fileira de árvores, num cruzamento de estrada. Pude ver o clarão do disparo na boca do canhão, e o projétil vir para nós...Lancei o meu avião para baixo da descarga. O projetil arrancou o aileron e o timão esquerdo do aparelho do Cap. Roper, que voava à minha direita.

Voltei-me a colocar junto a ele. Seu avião estava destroçado, porém se mantinha no rumo. Pude ver Roper, na cabine, olhando fixamente para a frente, mantendo seu avião estabilizado...

A resistencia se fazia cada vez mais violenta. Nossos metralhadores disparavam incessantemente. Nos aproximavamos do objetivo pela direção oposta à projetada, a uma velocidade de 245 milhas por hora, 65 milhas acima da usual, aplicando potência de emergência aos motores...

Tudo o que eu queria era transpor esse inferno de traçantes, tanques de petróleo explodindo, e aviões em chamas..."

                                         

" Vi Enoch Porter receber um impacto direto na barriga do seu avião e este se converteu numa massa de chamas. Duas linguas vermelhas surgiram dos lados do aparelho, envolvendo-o até a torre da cauda e projetando-se ainda para trás, no ar, num rio de fogo de duzentos pés de comprimento. Porter fez sua maquina subir num desesperado esforço de ganhar altura, para que seus homens pudessem lançar-se de para-quedas. O avião, porém, entrou em Stall, balançando-se no ar como uma bola de fogo e pela porta da proa cairam no espaço os corpos de Jack Warner e Red Franks "

                                                  

"O avião do Coronel Baker estava já ardendo fazia três minutos... começou então a inclinar-se sobre a asa direita. Não posso conceber como poderia haver ainda alguem vivo na cabine, porém alguem manteve o aparelho em vôo, guiando o resto do grupo a avançar atravez das chaminés da refinaria. Minutos mais tarde, o aparelho se ergueu, elevando-se a uns 300 pés, e três ou quatro homens saltaram... Depois, então, se inclinou sôbre a asa direita e se lançou velozmente contra o aparelho do Coronel Brown, que escapou a investida por uma escassa diferença de seis pês de distância. O avião do Coronel Baker passou então roçando por nós, convertido numa bola de fogo que impedia que vissemos o interior da cabine, e foi espatifar-se num campo descoberto".

                                            

" Procuravamos algum avião dos nossos para voar em formação. Encontramos um, porém doi derrubado pouco depois. Nos unimos a outro que tambem foi derrubado... Um caça se colocou na nossa cauda e as traçantes começaram a sibilar por cima e ao redor da cabine. hughes e eu tentavamos deseperadas manobras evasivas. Nosso artilheiro da cauda exclamou de repente, que o caça havia caido ao solo como uma tonelada de tijolos. a 50 pés mais abaixo distingui outro B-24  com um me-109 aferrando sua cauda, desceu bruscamente e o avião inimigo se incrustou no solo. Nos ocultamos em uma nuvem e analisamos a situação : não contavamos com combustivel suficiente para voltar á Libia, nosso timão esquerdo de cauda estava um verdadeiro agulheiro, um cabo de controle praticamente seccionado e três dos artilheiros seriamente feridos...Resolvemos rumar para a Turquia".

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